Avançar para o conteúdo principal

Ruth Bader Ginsburg: A História de uma verdadeira líder [sobre Igualdade de Género e Direito das Mulheres]



Ruth Bader Ginsburg: A História de uma verdadeira líder

[sobre Igualdade de Género e Direito das Mulheres]


Por: Joana Capaz Coelho




A série documental "Líderes que inspiram”, disponível na plataforma de streaming Netflix, e construída sob o lema de Nelsen Mandela segundo o qual: “O que conta na vida não é o mero facto de termos vivido, mas sim a diferença que fizemos na vida dos outros”, é composta por 7 entrevistas a grandes líderes mundiais.

Neste post vamos focarmo-nos na primeira entrevista desta série documental que incide sobre a História de Ruth Bader Ginsburg (doravante Ginsburg) (1993 – 2020) que foi uma jurista, advogada e juíza norte-americana cuja carreira ficou conhecida pela constante luta pela defesa da Igualdade de Género e Direito das Mulheres.

Ginsburg, tal como é retratado naquela entrevista, no início da sua carreira teve de enfrentar variados desafios numa América de 1959 onde às mulheres era dificultado o acesso a múltiplas profissões: sendo a Advocacia uma delas. 

Neste sentido, Ginsburg, depois de se ter formado em Direito e na tentativa de ingressar no mercado de trabalho, não conseguia encontrar emprego.  As razões expostas pela mesma foram, nomeadamente, as seguintes: ser judeia, mulher e a mãe (sendo que esta barreira foi a que a “eliminou” de vez, dado que, como salienta Ginsburg “as raras firmas que arriscariam ter uma mulher, não arriscariam contratar uma mãe”).

Apesar de todas estas dificuldades iniciais, Ginsburg construiu uma carreira extraordinária, tendo sido uma das maiores vozes dos Direitos das Mulheres nos anos 70 do século passado (durante aquela década, foi, por exemplo, voluntária da União Americana das Liberdades Civis).

Em 1980, o Presidente dos Estados Unidos da América, Jimmy Carter nomeou-a para servir como Juíza no U.S. Court of Appeals for the District of Columbia Circuit. Mais tarde, em 1993, o então Presidente daquele País, Bill Clinton, nomeou-a para servir como Juíza no Supreme Court of the United States  (tendo, aliás, sido a segunda mulher a ocupar este cargo na História dos Estados Unidos da América).

Dos Estados Unidos da América para Portugal, é possível verificarmos que, desde 1990, o número de mulheres licenciadas inscritas na Ordem dos Advogados portuguesa tem aumentado de forma exponencial (em 1990 havia 8.477 homens inscritos e 2.842 mulheres inscritas e em 2021 havia 15.135 homens inscritos e 18.802 mulheres inscritas).



Esta tendência também é aplicável ao número de magistradas judiciais nos tribunais de primeira instância e superiores (em 1991 havia 847 homens juízes e 181 mulheres e em 2021, havia 644homens e 1.091 mulheres).

Todavia, se é verdade que as barreiras ao acesso a estas profissões diminuíram ao longo dos anos, também é verdade que continua a haver desigualdade no acesso a cargos de topo nestas profissões.

No caso da advocacia, e de acordo com a Advocatus (notícia de 01-04-2018), em Portugal havia, em 2018, apenas 28% de sócias nas sociedades de advogados.

Quanto ao número de Magistradas no Supremo Tribunal de Justiça ou no Supremo Tribunal Administrativo continua, também, a haver uma grande disparidade entre géneros.  Segundo a Advocatus (notícia de 8-03-2021): “[…] indicou Ana Micaela Proença, que existe um “reduzido número de juízas no Supremo Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Administrativo”, sendo apontadas como razões explicativas deste reduzido número, designadamente, as seguintes: “[…] a discriminação dos seus direitos parentais e a dificuldade de compatibilização da vida pessoal, familiar e profissional”.

A propósito desta discussão, recordemos ainda que, o direito de igualdade de género para além de um direito humano é um direito fundamental consagrado no artigo 13.º da Constituição da República Portuguesa (CRP), nos termos do qual: “1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. 2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual”. [sublinhado nosso].

Voltando aquela entrevista, a certo momento, perguntam a  Ginsburg o seguinte: “O que acha que foi mais importante para si no decurso da sua vida?”, a que esta responde: “Foi o de ajudar um movimento de mudança. Mudança para que as filhas sejam tão estimadas quanto os filhos. Não deve haver locais onde as mulheres não possam entrar, como havia tantos na minha juventude. Atualmente, graças a Deus, essas barreiras desapareceram. Precisamos de duas coisas: talento e trabalho árduo a acompanhar, mas não deve haver barreiras artificiais a impedir-nos […]”.

Assim, se as barreiras que impediam o acesso a certas profissões foram quebradas com o tempo devido ao espantoso trabalho de personalidades como a de Ginsburg,  perguntamos: será o próximo passo a atenuação da desigualdade de género no acesso aos cargos de topo?

Sugestão de citação: J.C.Coelho, "Ruth Bader Ginsburg: A História de uma verdadeira líder  [sobre Igualdade de Género e Direito das Mulheres]", 19th June, 28 de fevereiro de 2023.






Comentários

Mensagens populares deste blogue

Environmental Education as a Tool for a Sustainable Future

  Environmental Education as a Tool for a Sustainable Future        By: Joana Capaz Coelho   The fight for the sustainability of the planet is undoubtedly one of the biggest environmental challenges we face. The responsibility to ensure that future generations have a habitable planet lies with each and every one of us. According to the 1987 Brundtland Report “Our Common Future” of the World Commission on Environment and Development, the concept of sustainable development can be defined as: “development that meets the needs of the present without compromising the ability of future generations to mee t their own needs” [1] This definition emphasizes the importance of finding a balance between the current needs of society and the preservation of natural resources, in order to ensure that future generations can also meet their own needs. Sustainable development seeks to reconcile economic progress, social equity, and environmental protection, recognizing that t...

Three Years of Blogging, a Lifetime of Affection: The Right to Family as a Place of Belonging

  Three Years of Blogging, a Lifetime of Affection: The Right to Family as a Place of Belonging By Joana Capaz Coelho Today, this blog turns three — on my Mother's birthday. Three years of writing, sharing, and reflecting. Of carefully chosen, hesitant, heartfelt words. Three years of trying to reconcile what drives me in Law with what moves me in life. This text is, therefore, both a celebration and a tribute. A celebration of this space that keeps growing with me — and a tribute to my Mother. Speaking about her is difficult without my voice breaking. Perhaps because it was through her that I first understood — without yet knowing — what the Right to Family means. And I don’t mean the cold letter of the law, but the lived reality of having someone who cares, who welcomes, who stays. Over these three years, I have written about human rights, health, gender equality, and solidarity. But I always return to the same root: the right to have someone. To have someone who supports us, ...

O REGIME DE ATRIBUIÇÃO E DE EXPLORAÇÃO DOS DIREITOS MINEIROS: UMA VISÃO DE DIREITO COMPARADO

  O REGIME DE ATRIBUIÇÃO E DE EXPLORAÇÃO DOS DIREITOS MINEIROS: UMA VISÃO DE DIREITO COMPARADO   Por: Joana Capaz Coelho INTRODUÇÃO Ao analisarmos o regime de atribuição e de exploração dos direitos mineiros constatamos que a doutrina maioritária considera existirem, essencialmente, dois sistemas de propriedade dos direitos mineiros [1] : o Sistema Dominial e o Sistema da Acessão, sendo, porém, que, nos dias de hoje, a regra geral é a do Sistema Dominial . [2] , [3] . Em traços muito simplistas, no caso do Regime Dominial os recursos naturais são propriedade do Estado e, no caso do regime de Acessão [4] os recursos pertencem aos proprietários dos terrenos ( neste caso inclui-se os Estados Unidos da América) . [5] Nos dias de hoje, cada vez mais, os Estados tendem a atribuir o direito de prospeção e exploração a empresas nacionais ou estrangeiras mediante a celebração de um contrato, sendo que a forma como o fazem varia. No caso dos regimes de acessão, o proprie...

A Solidão e as Mensagens do Papa Francisco: um caminho para o reforço da Fraternidade?

A Solidão e as Mensagens do Papa Francisco: um caminho para o reforço da Fraternidade? Por: Joana Capaz Coelho     A solidão representa um dos maiores desafios da sociedade contemporânea. O Papa Francisco tem abordado esta questão com intensidade, apelando à solidariedade e à fraternidade como valores fundamentais para superar esta questão de saúde pública, que afeta especialmente os mais vulneráveis.   Na verdade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem vindo a alertar para os riscos associados à solidão, de entre eles, os seguintes: ¾      Aumento em 25% do risco de morte; ¾      Aumento em 50% do risco de demência; e ¾      Aumento em 30% da probabilidade de desenvolvimento de doenças cardiovasculares [1] .   Dada a gravidade da situação, a OMS criou a Comissão de Conexões Sociais, com o objetivo de reconhecer a solidão como uma prioridade global e propor soluções para mitigar os seus impactos [2] . De a...