A Educação Ambiental como ferramenta para um Futuro Sustentável
Por: Joana Capaz Coelho
A luta pela sustentabilidade do planeta é, sem dúvida, um dos maiores desafios ambientais que enfrentamos. A responsabilidade de garantir que as gerações futuras tenham um planeta habitável recai sobre cada um de nós. De acordo com o Relatório Brundtland de 1987 «O Nosso Futuro Comum» da Comissão Mundial para o Ambiente e o Desenvolvimento, o conceito de desenvolvimento sustentável pode ser definido como: “desenvolvimento que responde às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de resposta das gerações futuras às suas próprias necessidades”[1].
Esta definição enfatiza a importância de encontrar um equilíbrio entre as necessidades atuais da sociedade e a preservação dos recursos naturais, de forma a garantir que as gerações futuras também possam satisfazer as suas próprias necessidades. O desenvolvimento sustentável procura conciliar o progresso económico, a equidade social e a proteção ambiental, reconhecendo que estes três pilares estão interligados e são igualmente importantes.
Neste sentido, para que seja adotada uma abordagem de desenvolvimento sustentável, é fundamental considerar os impactos das nossas ações no meio ambiente, nas comunidades e na economia, o que implica implementar práticas e políticas que promovam a eficiência na utilização dos recursos naturais, a redução das emissões de gases de efeito estufa, a conservação da biodiversidade, a gestão adequada dos resíduos e a promoção da justiça social.
A iniciativa “MOVE Lisboa - Visão estratégica para a Mobilidade 2030” que pretende promover a mobilidade sustentável, como o incentivo ao uso de transportes públicos e a promoção de veículos elétricos[2], é um exemplo de políticas e práticas alinhadas com os princípios do desenvolvimento sustentável.
Apesar de medidas como estas
serem importantes, por si só, não chegam. É necessário incutir nos cidadãos, a
começar pelos mais jovens, a responsabilidade pelo futuro do planeta.
É neste contexto que a unidade curricular de Cidadania e Desenvolvimento ganha relevo, dado que, como explica a Direção-Geral da Educação, esta unidade curricular visa “preparar os alunos para a vida, para serem cidadãos democráticos, participativos e humanistas, numa época de diversidade social e cultural crescente, no sentido de promover a tolerância e a não discriminação, bem como de suprimir os radicalismos violentos”.
De acordo com Estratégia Nacional de Educação para Cidadania (ENEC), a unidade curricular de Cidadania e Desenvolvimento, que tem caráter obrigatório para o 2° e 3° ciclo e transversal no ensino secundário, encontra-se estruturada em três grupos temáticos distintos.[3]
No primeiro grupo estão inseridos os temas relativos aos “direitos humanos (civis e políticos, económicos, sociais, culturais e de solidariedade)”; à “igualdade de género”; à “interculturalidade (diversidade cultural e religiosa)”; ao “desenvolvimento sustentável”, à “educação ambiental” e, finalmente, à “saúde (promoção da saúde, saúde pública, alimentação, exercício físico)”.
No segundo grupo encontram-se incluídos os temas da “sexualidade (diversidade, direitos, saúde sexual e reprodutiva)”; dos “media”; das “instituições e participação democrática”; da “literacia financeira e educação para o consumo” e da “segurança rodoviária e risco”.
E, por fim, no terceiro grupo encontram-se os temas do “empreendedorismo”; do “mundo do trabalho”; da “segurança, defesa e paz”; do “bem-estar animal”; do “voluntariado”. A estas temáticas podem ser acrescentadas outras (de acordo com as necessidades de educação para a cidadania diagnosticadas pela escola e que se enquadre no conceito de EC proposto pelo Grupo).”
Ora, para o caso que estamos a examinar, importa destacar o tema da “educação ambiental”, que como vimos, se encontra enquadrado no grupo 1 daquela unidade curricular.
A “educação ambiental” desempenha um papel fundamental, ao aumentar a conscientização pública sobre os impactos das nossas ações no meio ambiente e na promoção de práticas que visem o desenvolvimento sustentável. Como resulta do Referencial de Educação Ambiental para a Sustentabilidade visa-se, por exemplo, “incentivar os alunos a conhecer o que implica o conceito de sustentabilidade associado a uma responsabilidade intergeracional” ou a promover a reflexão “sobre causas de alterações climáticas, proteção da biodiversidade e proteção do território e da paisagem”[4].
Neste contexto, e de modo a destacar
um exemplo de como esta Unidade Curricular pode ser fundamental para formar as
gerações do futuro a promover a sustentabilidade do ambiente, destacamos o projeto
“O Melhor de Nós – O teatro como veículo
de cidadania”[5].
Este projeto, coordenado pelos professores Anabela Pais e José Delgado e representado pelos alunos do Agrupamento de Escolas de Linda-a-Velha e Queijas, com sede na Escola Secundária Professor José Augusto Lucas, utiliza o poder do teatro para transmitir mensagens ambientais impactantes, abordando questões relacionadas com a sustentabilidade do planeta, o ambiente, a poluição, entre outros.
Os atores/alunos, por meio de diálogos e canções, refletem, nomeadamente, sobre os impactos da poluição do ar, da água e do solo, bem como da poluição sonora e visual, e apelam a que todos Nós salvemos o planeta. Deste modo, através da representação, os atores convidam o público a pensar sobre o seu próprio papel na proteção do meio ambiente e a procurar formas de reduzir a poluição no seu dia a dia.
Esta impactante peça de teatro constitui apenas uma das muitas formas de como a Unidade Curricular de Cidadania e Desenvolvimento, e em concreto o tema da “educação ambiental” pode, de facto, desempenhar um papel fundamental na construção de um futuro mais sustentável. Através de iniciativas educativas como esta, é possível alcançar toda a comunidade escolar – alunos, professores, não docentes, pais, amigos e restante família -, e disseminar conhecimentos sobre a sustentabilidade do planeta e, consequentemente, incrementar o sentido de responsabilidade nos mais jovens.
De facto, as escolas assumem um papel absolutamente determinante no processo de formação das crianças com vista a que estas se tornem cidadãos responsáveis, solidários, com espírito crítico e, consequentemente, com capacidade para participar, ativamente, na vida pública do seu país. E iniciativas como esta, são um excelente “veículo” de formação e aprendizagem.
Contudo, as escolas são apenas o ponto de partida. A responsabilidade pelo planeta é de todos Nós!
Nesta ambiência, os governos têm, também, um papel fundamental na promoção da educação ambiental. Aliás, resulta da Declaração das Nações Unidas sobre Educação e Formação em Direitos Humanos[6] que os Estados e as autoridades governamentais são as principais entidades responsáveis pela promoção e garantia da educação e formação em matéria de direitos humanos (artigo 7.º). Deste modo, os governos devem, nomeadamente, “formular ou promover a formulação, ao nível adequado, de estratégias e políticas e, conforme apropriado, de programas e de planos de ação, para a implementação da educação e formação em matéria de direitos humanos, por exemplo, integrando-as nos planos de estudos das escolas e nos programas de formação” (artigo 8.º).
Do mesmo modo, as organizações não governamentais também assumem um importante papel no que concerne à promoção da educação ambiental. Estas entidades, por exemplo, ao desenvolverem campanhas de sensibilização, organizarem eventos comunitários, oferecerem cursos e workshops, e fornecerem materiais educativos sobre a poluição e as suas consequências, incrementam a responsabilidade dos cidadãos sobre estas temáticas. A parceria entre essas organizações e as instituições de ensino é fundamental para alcançar um público mais amplo e promover ações concretas de incentivo às práticas que promovam a sustentabilidade do planeta!
A participação ativa de todos os setores da sociedade é fundamental para alcançar um futuro mais sustentável e proteger o nosso ambiente para as gerações futuras. Neste sentido, é essencial que as iniciativas de educação ambiental forneçam, não apenas conhecimento teórico, mas, também, incentivem a ação prática.
Contudo, todos Nós, no nosso dia
a dia, podemos adotar algumas medidas que promovam um futuro mais sustentável,
de entre as quais:
- Reduzir o consumo de energia: optar por lâmpadas de baixo consumo energético, desligar aparelhos eletrónicos quando não estão em uso e utilizar energia renovável sempre que possível;
- Promover a reciclagem: separar corretamente os resíduos recicláveis e descartá-los nos locais apropriados. Também é importante incentivar a reutilização de itens e reduzir o consumo de produtos descartáveis;
- Poupar água: utilizar a água de forma consciente, evitando desperdícios e reparando fugas. Também é recomendado utilizar tecnologias eficientes, como torneiras e chuveiros económicos;
- Apoiar a mobilidade sustentável: optar por meios de transporte mais sustentáveis, como caminhar, utilizar bicicletas, partilhar carros ou utilizar o transporte público. Se possível, considerar a compra de veículos elétricos;
- Consumo consciente: dar preferência a produtos e serviços sustentáveis, considerando o impacto ambiental da sua produção, embalagem e transporte. Valorizar empresas que adotem práticas responsáveis;
- Envolvimento comunitário: participar em iniciativas locais de educação ambiental, como projetos de revitalização de áreas verdes, limpeza de praias ou campanhas de sensibilização.
Cada ação individual conta, e é importante que todos assumam a responsabilidade de agir de forma consciente em relação ao meio ambiente.
Como cantam os atores/alunos, de
forma esperançosa:
“Amanhã,
Todos vamos acreditar no
amanhã,
Numa terra que é nossa mãe e
irmã.
Nos protege e dá abrigo,
Há que crer para haver um lindo,
Amanhã.”
De facto, a responsabilidade pelo planeta é de Todos - governos, ONG’s, empresas, estabelecimentos de ensino dos diferentes níveis, comunidades locais e sociedade civil em geral.
[1] Cfr. https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=LEGISSUM:sustainable_development (consultado a
11/07/2023).
[2] Cfr. https://www.lisboa.pt/fileadmin/cidade_temas/mobilidade/documentos/BrochuraMOVE_2030.pdf (consultado a
11/07/2023).
[3]Vide, anexo VIII da Portaria n.º 223-A/2018, de 3 de agosto de
2018, https://dre.pt/dre/detalhe/portaria/223-a-2018-115886163 (consultado a
11/07/2023).
[4]Cfr. https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/ECidadania/Educacao_Ambiental/documentos/referencial_ambiente.pdf (consultado a
11/07/2023).
[5] Página do facebook:
https://www.facebook.com/OTeatrocomoVeiculodeCidadania e Página do instagram: https://www.instagram.com/teatroecidadania2022/ (consultado a
11/07/2023).
[6] Versão não oficial e em
língua portuguesa da Declaração das Nações Unidas sobre Educação e Formação em
Direitos Humanos disponível para consulta em: https://igc.fd.uc.pt/manual/pdfs/III_RECURSOS.pdf (consultado a 11/07/2023), págs. 572 e ss.
Comentários
Enviar um comentário